Presente no encontro, a representante do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb), Alessandra Gadelha, criticou a precarização do trabalho e o assédio moral nos serviços público e privado. “Temos visto não só o adoecimento como o suicídio de profissionais de saúde. Cabe aos sindicatos acompanhar de perto os trabalhadores.
Números – Levantamento do Ministério da Previdência Social aponta que depressão e ansiedade foram responsáveis por 149,3 mil benefícios por incapacidade temporária, no Brasil, em 2023 – no extrato relacionado às principais causas de afastamento do trabalho. Neste cenário, dados da Fundação Getúlio Vargas, no ano anterior, revelaram que 63% dos profissionais com algum transtorno mental não receberam apoio de suas lideranças para lidarem com o problema e que 48% acreditam que as empresas pouco ou nada se preocupam com o bem-estar dos trabalhadores.
Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que os gastos com transtornos mentais de saúde já alcançam mais de 4% do PIB de países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Austrália.
Em sua abordagem, Eliana Cardoso ressaltou que o assédio moral é um dos fatores que contribuem para o adoecimento dos trabalhadores. Segundo ela, é preciso mudar o modelo de organização do trabalho, realizar um processo educativo e humanizar as relações a fim de modificar o comportamento autoritário comum em gestores. “Temos que estabelecer uma rede de solidariedade. É preciso colocar-se no lugar do outro para melhorar o ambiente do trabalho”, completou.
A médica do trabalho salientou que o silêncio praticado pelo trabalhador, com medo de perder emprego só beneficia quem assedia.
A psicóloga Bruna Santos elencou desafios para reduzir o adoecimento laboral e sugeriu criação de espaços de discussão no ambiente do trabalho. Ela destacou ainda que há um tabu sobre saúde mental. “As pessoas temem admitir ter doenças mentais, por conta dos estigmas”, disse.
Ela lembrou também que há formas de prevenir os transtornos como depressão e ansiedade. “Temos que cuidar do sono, estabelecendo uma regularidade, fazer terapia, buscar uma rede de apoio e ter garantidas boas condições de trabalho”, explicou.
Já a juíza substituta do Trabalho, Adriana Manta, abordou assuntos como os tipos de violências e discriminação no local de trabalho e pontuou o fato de haver uma sociedade hierarquizada e a herança negativa do período de escravidão que reflete, ainda hoje, nas relações de trabalho. “Há ainda o machismo, racismo, capacitismo e preconceito contra a população LGBTQIA+, bem como as microagressões que são falas que ferem colegas de trabalho relacionadas ao machismo e racismo “recreativo”.
Adriana Manta ressaltou ainda o adoecimento psíquico de mulheres, que é maior que o dos homens, principalmente devido à sobrecarga de trabalho e múltipla jornada. “Vivemos ainda a era do presenteísmo. Isso ocorre quando a pessoa frequenta o trabalho, mas não consegue executar as tarefas. Isso tem acontecido muito, pois as pessoas temem perder o emprego. Apenas o corpo físico está ali”, finalizou.
O evento teve o apoio institucional da CUT Bahia e foi organizado pelos seguintes sindicatos: Sindprev, Sindsaúde Público, Sindsaúde Rede Privada, Sintrafundapp, Seeb, Sindacs, Sindlimp, Sindpec, dentre outros.
Fonte: Jornal da Chapada
Foto: João Pedro/Live
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