Bienal do Livro Bahia reúne mais de 100 mil pessoas

                       

Por Livia Veiga

O público baiano aproveitou o feriado desta quarta-feira (1) para lotar os espaços da Bienal do Livro Bahia, realizada no Centro de Convenções de Salvador, que este ano superou a marca de 100 mil visitantes. De acordo com Tatiana Zaccaro, diretora geral do evento, esta edição teve como objetivo enaltecer a cultura e literatura baiana, com uma programação que contou com nomes como Itamar Vieira Junior, autor mais lido do país e baiano.

Segundo ela, a Bahia recebeu de braços abertos o evento. “A Bienal do Livro Bahia é a maior de todos os tempos, com o maior número de pessoas, o que nos deixa muito felizes”, afirma, destacando que esta edição também registrou recorde de público nas sessões de programação cultural: “nós tivemos praticamente todas as sessões cheias, com o público procurando, querendo pegar autografo. Isso tudo mostra como a Bahia reconhece a grandiosidade e a importância da Bienal do Livro Bahia”.

Com mais de 200 marcas expositoras, cerca de 2.300 trabalhadores credenciados durante os seis dias de evento e mais de 170 autores, personalidades e artistas que produziram mais de 100 horas de conteúdo para todos os públicos, o evento este ano teve como tema “As Histórias que a Bahia Conta”. A programação contou com a presença de pelo menos um participante baiano em todos os painéis, mesas de debates e demais atividades, seja um autor, uma personalidade ou um mediador.

Após mais de um ano dedicado à produção, a grande preocupação da organização do evento, como explica Zaccaro, é trazer as especificidades e características do estado. “A nossa equipe de conteúdo se preocupa muito, desde a escolha dos curadores”, explica, ressaltando a presença das baianas Joselia Aguiar e Mira Silva. Para ela, a presença de personalidades baianas nas sessões mostra a “qualidade e quantidade da produção literária e cultural que a Bahia oferece”.

A influenciadora digital e criadora de conteúdo sobre livros e cultura pop, Gabriele Carvalho, destacou o investimento das grandes editoras na Bienal desse ano. Talvez porque eles viram, realmente, o potencial da Bahia. A gente não vai só para shows, a gente também gosta de ler, gosta de cultura, disse. Como ponto de melhoria para as próximas edições, a responsável pela conta @livroseriesbrigadeiro, com mais de 66 mil seguidores no Instagram, sugere a criação de um ponto de encontro para influenciadores: a gente é responsável por trazer grande parte dos leitores para cá.

A escritora Clary Avelino esteve na Bienal de 2022 com sua antiga editora e que participa este ano, como escritora independente, do livro Avalanche, falou da importância de estar tão perto dos leitores. “É sensacional, você conversa com as pessoas. É muito mais legal quando a gente tá em casa, né? A Bienal do Rio de Janeiro foi maravilhosa, a Bienal de São Paulo foi magnífica, mas a Bienal de Salvador é outra coisa: tem o gosto do baiano, o cheiro do baiano. O baiano é diferente”, comentou.

Estudante do curso de Direito da Universidade Federal da Bahia, Alex Castro destacou a variedade de atrações, para além da venda dos livros. “Gostei muito de ver o Pedro Rhuas e a Elayne Baeta. Foi muito legal”, disse.

Luta e representatividade

No último dia desta edição da Bienal na Bahia, temas como ancestralidade e diversidade de gênero foram destaque em debates que reuniram leitores e autores. No espaço Café Literário, o público pode acompanhar uma conversa com o premiado escritor Kaka Werá, ambientalista e conferencista indígena brasileiro do povo tapuia. Para ele, Bahia possui a tradição de cultivar, reconhecer e lutar pela importância e preservação da ancestralidade.

Apesar disso, segundo ele, ainda há um caminho a ser trilhado, especialmente, em razão de um panorama histórico nacional de negação da diversidade e uma pluralidade cultural.

“Existem 308 etnias invisíveis para uma considerável parcela da sociedade brasileira, invisíveis no sentido de não serem reconhecidas as suas tradições, os seus direitos, os seus posicionamentos e os seus valores e visões de mundo. Então, falar de ancestralidade também é para trazer para a visibilidade todos esses povos”, completa.

Entre seus livros mais conhecidos e premiados, Menino-Trovão (Editora Moderna), que conta a história de duas crianças e da origem do mundo. “Nos mitos indígenas, vir ao mundo é uma descoberta, uma oportunidade de criar desenhos, bichos, desenhos, com leveza. A chave dessas mitologias é dizer que o ser humano, quando vem ao mundo, para o desafio de ser um co-criador”, conta.

Com acessos esgotados para a sessão de autógrafos, a autora best-seller baiana, Elayne Baeta revelou sua decepção com a falta de representatividade lésbica na literatura e afirmou reconhecer sua responsabilidade em “plantar coragem no peito dessas meninas”. “Temos bastante coisa para comemorar, como os avanços no mercado editorial. Porém, pouco quando comparado com a literatura heterossexual. Mas, torço para que cresça mais. Consigo vislumbrar um futuro mais significativo para a gente. Quero que mais autoras lésbicas se tornem best-seller. O amor é lindo, a gente tem várias formas de amar”, afirmou.

Também presente no evento, a cantora Zélia Duncan apresentou ao público baiano o seu novo álbum, Sete mulheres pela independência do Brasil e o seu livro, Benditas coisas que eu não sei, em que compartilha memórias da sua trajetória de sucesso. Em uma das faixas do projeto, a história das baianas Maria Felipa, Maria Quitéria e Urânia Vanério de Argollo Ferrão são contadas. “A Bahia teve um papel fundamental, porque fez a sua própria luta, de uma maneira muito contundente, não é à toa que aparecem essas três, que são inviabilizadas. A Bahia sempre teve o ímpeto de liberdade e tenho certeza que ajudou a espalhar isso para o resto do país”, revelou a também atriz, compositora, roteirista e escritora.

A próxima edição da Bienal do Livro Bahia acontecerá em 2026, se consolidando como um dos maiores do setor cultural de literatura do Brasil. Na manhã de ontem, foi registrada a interrupção parcial do fornecimento de energia, por cerca de 30 minutos, na área dos stands e da Arena Jovem. Por isso, sessões foram deslocadas para outros espaços, segundo a organização do evento, sem grandes transtornos.

Fonte: Tribuna da Bahia
Foto:Mateus Pereira/GOVBA
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